sábado, 16 de maio de 2009

DA SUPERMODERNIDADE À SUPERABUNDÂNCIA


Segundo Marc Augé*, a superabundância factual se dá a partir da aceleração da história. Essa aceleração não é simplesmente temporal, no sentido de que os fatos aconteçam mais rápidos, mas é, além disso, a rapidez em que esses fatos são divulgados. A ocorrência de fatos históricos ou até mesmo do cotidiano é descoberta/sabida/entendida pela sociedade quase que silmultâneamente ao acontecimento propriamente dito. Logo, os acontecimentos que antes só eram “conhecidos” pela população diretamente ligada a ele ou então, depois de certo tempo por sociedades mais distantes, quando o mesmo era “catalogado” e/ou divulgado, hoje, se propaga na mesma velocidade em que acontece. Assim, unidades de tempo que existiam separadamente (tempo do acontecimento + tempo do entendimento + tempo de divulgação), na chamada supermodernidade se agrupam e se multiplicam. Pense que: o tempo que nos separa das “notícias do mundo” é o tempo que levamos para ligar o computador (ou até mesmo o celular!); a distância entre duas cidades se torna cada vez mais imperceptível, isso porque, a velocidade em que percorremos o trajeto anula a percepção da estrada em si.

O acesso físico ou virtual cada vez mais veloz e fácil torna o “mundo” cada vez menor, isso é, mais fácil de ser visitado, conhecido ou simplesmente reconhecido. Assim, tem-se a superabundância espacial. Porém, vale ressaltar que essa multiplicação de espaços se dá, muitas vezes, virtualmente, ou seja, é ilusória. Os “atuais” meios de comunicação, como internet, até mesmo a próprio telefone e a “indispensável” televisão, fazem a conexão entre espaços diversos e os seus usuários e possibilitam um falso [re]conhecimento de lugares nunca visitados realmente.

É nessa ilusão de abundâncias virtuais que o habitante da supermodernidade se encontra cada vez mais isolado e mais comum. Convive-se cada vez mais com “aparelhos eletrônicos” e cada vez menos com outras pessoas, buscando sempre uma identidade própria, um diferencial entre os demais.

A
experiência de cidade do habitante da chamada supermodernidade se dá, na maioria das vezes, de forma pouco participativa. Porém, toda e qualquer participação é o que dá vida à cidade. É na relação entre o homem, o seu próximo e o meio em que vivem que a cidade em si se “transforma” ou se define como paisagens. Essas paisagens sofrem influências diversas – influência do tempo, do lugar, da política, dos interesses e principalmente do repertório de outras experiências do usuário da cidade. Cada paisagem urbana** é única. Tem sua singularidade. O habitante interage com a cidade através do seu olhar, da sua perspectiva, formando, adaptando e ou [re]organizando paisagens. As paisagens são sinais visíveis daquilo que se foi, daquilo que se é e daquilo que poderá ser.

No espaço da supermodernidade, onde a multiplicação de fatores (tempo, espaço) está mais evidente, as paisagens nunca são partes de uma totalidade já acabada. Elas são recortes de um todo – a cidade – em constante mutação. E é o
excesso de informação, de interesses, de olhares, de códigos, de linguagens, de usuários, de lugares que determinam a superabundância das paisagens. As paisagens superabundantes se expandem em outras paisagens, gerando mais ou menos memórias, relações e imagens para a cidade

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