quarta-feira, 9 de junho de 2010
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
Não-Pessoas?
quarta-feira, 12 de maio de 2010
o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 6
5. Considerações Finais
Essa discussão pretende levantar novas questões a respeito do não-lugar, da ideologia por trás dos movimentos de virtualização do espaço mundial e da cibercultura como uma realidade totalmente nova e independente daquilo que a precede e com o que convive de algum modo.
A cultura, por si só, é a virtualização fundamental. Os lugares ainda existem, e se apresentam de forma atualizada, em imagens que muitas vezes mascaram até mesmo a existência de um lugar-origem que, atualmente, pode ser um lugar-físico (hardware) ou um lugar-linguagem (software). O concreto ainda é condição sine qua nom da existência e da própria virtualização.
A virtualização esconde novas relações de dominação, ainda obscurecidas nos escombros da sociedade que se desintegra para dar lugar à nova sociedade, manifestando-se mascarada no mito da liberdade total da cibercultura e na anarquia do ciberespaço.
Já se sabe que o trânsito de negócios entre empresas pela internet é incomparavelmente maior do que os individuais. Além disso, instrumentos de qualificação de sites já nos permitem vislumbrar a interdição dos discursos (FOUCAULT, 2001, p. 9) presentes na rede, atribuindo características, qualidades às diversas manifestações, desqualificando as falas. Essa interdição não se limita apenas à linguagem-conteúdo, mas também a linguagem-programação, na busca de padronizar os protocolos de comunicação e leitura dos programas da rede, instituindo um idioma universal. Isso sem falar nas possibilidades de vigilância geradas pelas tecnologias da internet, que já configuram padrões de consumo, culturais, de interesses, entre outros.
Começa a se configurar a atualização da sociedade de controle, o disciplinamento, a domesticação da rede.
Contra esse disciplinamento, vai subsistir o mito das origens, da contra-cultura californiana e do domínio das máquinas sobre o homem – o novo apocalipse. Em um período que nos esforçamos para compreender o presente, o “futuro” já se faz presente.
Fonte Revista Espaço Acadêmico
o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 5
4. Por que virtualizar?
Pode-se dizer que a capacidade de simbolizar, que emerge em nossa espécie entre 45 e 70 mil anos atrás, é o princípio da virtualização. É quando o lugar deixa de se restringir ao espaço físico-ambiental da geografia, rompendo com a relação lugar-espaço com o que se apresenta aos olhos.
A religião pode ser uma interessante referência nesse sentido. Teorias antropológicas da religião nos mostram que esta teria surgido da incompreensão dos fenômenos oníricos, quando mortos e vivos se encontram em um lugar: o cérebro, onde ocorrem os fenômenos oníricos. E daí em diante estamos sempre construindo lugares utópicos, atualizações de registros neurológicos.
A emergência do espaço virtual informático implica em novas relações econômicas, nas quais parece-se querer destituir a importância daquilo que é concretamente produzido. Marxistas radicais se debatem para tentar compreender o que aconteceu com a mercadoria, com a industria, com o dinheiro e, enfim, com o ambiente econômico. Sem dúvida, ele não é mais o mesmo. Por outro lado, a lógica ainda se mantém. Não a lógica da produção capitalista descrita por Marx, mas a lógica da superioridade daqueles que detém o saber legitimamente constituído, como nos diz Foucault. Esse saber constituído, a partir das condições de poder e normas para a produção de saber de cada sociedade, é que vai possibilitar o surgimento das máquinas que vão, num primeiro momento, modificar a estrutura produtiva voltada para a mercadoria e, em nosso tempo, para a informação, que ainda assim se produz mediada por máquinas concretas, que precisam ser fabricadas.
Pode-se entender a tentativa de virtualização como uma estratégia de poder e de exclusão. Mesmo na anárquica internet, ainda que não haja mecanismos de controle de conteúdo eficientes, já se aplica o critério de classificação dos sites, interditando aqueles que dizem o que não pode ser dito, conforme as regras da sociedade e da distribuição do poder.
A cibercultura, embora uma síntese complexa de alguns elementos presentes na cultura técnica e simbólica, não está livre das condições as quais emerge e, menos ainda, dos seus elementos constitutivos. Parece querer esconder aos olhos aquilo que a produz. O argumento de Kim defende como a cibercultura, e outros termos de prefixo ciber, são como se fossem releituras atualizadas e junções de conceitos já existentes:
Assim podemos, por exemplo, entender que o consenso social acerca do que é correio eletrônico (e-mail) está dentro dos limites de significações de “eletrônico” e “correio” (electronic e mail), sobre os quais já havia um consenso social. O mesmo ocorre com ciberespaço (cybernetics space) ou ciborgue (cybernetics organism). São exemplos onde os termos que sintetizam o discurso técnico-científico (“e” de electronic ou “cyber” de cybernetics) adquirem novas conotações e engendram significados inéditos na sua conjunção com antigos significantes (mail, space, organism), projetando o sistema antigo de interpretação da realidade sob novas formas, dentro das dadas possibilidades históricas e culturais de significação. O que comumente tem se chamado de “cibercultura” é uma resposta positiva da cultura na criação de uma “nova ordem do real” frente aos novos contextos práticos que desafiam as categorias tradicionais de interpretação da realidade (KIM, 2004, p.207).
A cibercultura surge em um espaço, não necessariamente o ciberespaço, e em um tempo. Sendo assim, o mito que se forma em torno desse conceito, pode ser desvendado, revelando-se a sua pretensão de universalidade e de existência desde sempre. Percebe-se que o que produz a cibercultura, e não somente onde ela se reproduz e se efetiva, o ciberespaço, também este é produto da cultura, de um tempo e de um espaço e, portanto, a eles subordinados.
A literatura ciberpunk e a ficção científica em geral, nos últimas anos[1], vem apresentando um risco, uma ameaça, de que as máquinas tornem-se capazes de se reproduzirem independentemente do ser humano. Seria a gênese de uma nova espécie na terra. Por trás dessas narrativas, podemos perceber a ilustração da possibilidade da revolta do próprio sistema, hoje sustentado nas máquinas, na tecnologia, contra o ser humano. Algo do tipo a bomba atômica que destrói o planeta, com a tecnologia que era para ser o bem. Contudo, a nova versão do temor tecnológico é mais sutil.
Um outro mito relacionado a cibercultura, e que lhe dá forma até os dias atuais, implicando inclusive em rituais que reportam a uma certa devoção e fidelidade às origens, é a importância da contra-cultura americana na construção da internet. Por esse mito, haveria o desejo de apropriação social das tecnologias, não as deixando por conta de militares e acadêmicos exclusivamente. Assim, as tecnologias cumpririam uma função social, e a essa origem estariam ligadas as características e o modelo de sociabilidades presentes nas redes, assim como as invasões hacker´s e as manifestações cyberpuk´s que seriam um tipo de celebração das origens e um esforço para manter a rede anárquica, insegura para os infiéis que querem transformá-la em um instrumento meramente operacional a serviço do sistema econômico, tanto a nível macro quanto micro.
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[1] Podemos listar: Neuromancer, Matrix, Eu, Robô, o Homem Bicentenário, A.I.,etc.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico
o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 4
3. Ciberespaço e Território – Culturas decorrentes
Para Ribeiro (2000, p.172), espaço e território são elementos de importância capital para se compreender os modos de representar pertencimento a unidades culturais ou sócio-políticas. As lealdades são definidas e delimitadas por territorialidade e por tecnologias de identificação. De acordo com esse autor, ciberespaço e cibercultura são espaços reais de contestações políticas e ambiências culturais, mas que não possuem equivalência com os demais espaços da forma como conhecemos. Seriam novos espaços e não sínteses de espaços anteriores.
Dessa análise, podemos concluir que o ciberespaço, onde acontece a cibercultura, é um ambiente de pertencimento, onde há a identificação por área e de origem. Em muitos momentos, as identificações ligadas às antigas tecnologias de identificação (identidade, cpf, nacionalidade, etc) são solicitadas para que novas identificações sejam realizadas no ciberespaço, permitindo o acesso às tribos da cibercultura e atribuindo novas identidades. E nos chama a atenção o fato de que a territorialidade da forma como conhecemos desaparece, surgindo uma nova territorialidade física, que se relaciona à localização dos servidores que armazenam as informações, sujeitos que estão às territorialidades de ordem tradicional para sua instalação. Pode-se dizer que há também uma territorialização pela linguagem, que sustenta, opera e concede existência aos programas, àquele espaço do ciberespaço. A identificação por esse ou por aquele software, por essa ou aquela interface gráfica.
Mais do que isso, as tribos da cibercultura estipulam seus rituais de iniciação, por meio dos quais o indivíduo passa a ter pertencimento a uma nova comunidade, assumindo posturas e comportamentos relacionados àquela tribo, sendo que a territorialidade que está aí presente não é a de um país, uma cidade ou um recorte físico geográfico continuo. Trata-se de informações e contatos dispersos pelos computadores dos participantes, e só acessível através da rede.
Eventualmente, grandes eventos rituais vêm a público para celebrar esse pertencimento e eternizá-lo, quando esses grupos se manifestam, em alguns momentos de forma trágica, com os suicídios coletivos programados pela internet, que vêm acontecendo com certa freqüência no Japão.
Nesse novo espaço, o ciberespaço, surge uma cultura (a cibercultura), com toda uma possibilidade, garantida pela estrutura técnica do ciberespaço, que privilegia o nomadismo, o voyerismo, e que, por meio do anonimato, da distância espacial e da possibilidade do mascaramento, estimula a uma multiplicidade de identidades culturais.
Michel Maffesoli (2001, p. 30) destaca essa riqueza cultural oferecida pelo ciberespaço quando afirma que “as potencialidades do ciberespaço estão longe de se esgotar, mas já testemunham o enriquecimento cultural que está sempre ligado à mobilidade, a circulação, sejam as do espírito, dos devaneios e até das fantasias, que tudo não deixa de induzir”. De fato, quanto mais intenso o contato entre as culturas, sejam coletivas ou individuais, maior a intensidade das transformações que irão ocorrer. As novas tecnologias de comunicação, mediadas por computador, permitem mais do que o contato massificador da televisão ou do rádio, no paradigma um-todos. Possibilita a troca real, em tempo real ou não.
Nesse ínterim, ordem e estabilidade são incertezas. A única convicção é a da mudança. A cultura que emerge desse contexto é mista, nômade, instável, incoerente, correndo-se o risco do vazio da comunicação ao qual se referia Baudrillard. A angustia se instala em definitivo.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico
o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 3
2. O virtual, o espaço e o ciberespaço
O ambiente artificial produzido pelo homem também é ambiente. Como tal, influencia a configuração cultural da humanidade assim como o ambiente natural. As mudanças no ambiente natural conduziram a evolução da espécie humana até um determinado ponto. Hoje, embora ainda sujeitos aos caprichos da natureza, nosso ambiente produzido culturalmente concorre juntamente com o natural na configuração do humano e, em alguns momentos, superando-o.
O ciberespaço, ou espaço virtual é também espaço, guardando características de ambiente, no que se refere à sua capacidade de interferir na produção e reprodução da cultura. Sendo espaço, é também lugar.
Há de se lembrar ainda, que o virtual, como concebe Pierre Levy, é a releitura, a atualização de algo que existe concretamente. Ou seja, o programa no qual alguém edita um determinado texto está fisicamente gravado no HD do computador e quem o digita está sempre saindo do totalmente virtual para o físico, salvando o documento para não perder as informações no limbo da virtualidade. E ainda assim, o texto em estado virtual antes de ser gravado no espaço físico, o “lugar” Hard Disck, tem o suporte físico da memória, podendo até mesmo ser, com alguma sorte, recuperado da inexistência concreta. O chat, a câmera de vídeo-conferência ou mesmo os jogos e programas de realidade virtual, são mediações físicas, numa interface de homem concreto - máquina concreta - homem concreto. Virtual por Virtual, a realidade é sempre uma virtualização do que está gravado em nossos cérebros.
Contudo, não há uma relação direta entre o que é virtual e o conceito de ciberespaço, o lugar onde acontece a sociabilidade.
Afinal, o ciberespaço é a virtualização, a atualização em um lugar, de dados registrados em outro lugar, interconectados por redes, e que, por suas características técnicas de programação, permite a mediação da comunicação entre seres humanos e com a própria cultura por eles produzida.
Pode-se entender que o que faz dessa mediação técnica ciberespaço é a própria possibilidade da mediação. Nesse sentido, Rosa (2001) propõe uma distinção entre on line e off line. Por essa distinção, nem tudo que é virtual é ciberespaço.
Para esse autor, a condição de off line, se traduz pela utilização da tecnologia para fins operacionais, de solução de problemas, não implicando na mediação da comunicação diretamente com outros seres humanos ou suas produções de forma interativa. São as operações frias, nas quais a relação se dá com um sistema, produzido para responder automaticamente, mecanicamente, aos comandos enviados.
Sob esse prisma, pode-se dizer que a internet se apresentaria como uma nova possibilidade de conforto, de solução de problemas do dia a dia, como uma pesquisa para a escola, buscar um modelo para algum trabalho, enfim, uma gigantesca biblioteca, mas, antes de tudo, uma biblioteca.
A condição on line implica a relação, a sociabilidade, seja esta em tempo real ou não. Pressupõe a interatividade, a existência de um lugar para se entrar e sair. Sobre isso, Poster (op. cit. ROSA, 2001) vai afirmar que a internet (ou ciberespaço) está muito mais para um território do que para uma coisa. Nascer ou viver no território da Alemanha, por exemplo, faz do indivíduo um alemão, sujeito à cultura e as contingências daquele lugar que se chama Alemanha. Por outro lado, o convívio na internet tem suas regras, seus crimes, suas ofensas, e configura os que nele habitam, instituindo etiquetas, normas sociais, hábitos, costumes, constituindo uma cultura no sentido pleno do termo.
Quanto a ser ou não coisa, não se pode esquecer, em nenhum momento, que a internet é também uma coisa, diferente do que defende Poster. A rede, os fios, os hardwares, os programas com suas operações pré-definidas nos softwares, são concretos, falham, param e precisam eventualmente ser consertados. O ciberespaço é um espaço abstrato, que se constrói sobre um suporte físico, produto da nossa cultura. André Lemos (2002, p.137) nos diz que o ciberespaço “não é desconectado da realidade, mas um complexificador do real”.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico
o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 2
A pergunta que se impõe é: o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar?
O Ciberespaço acontece nos programas no qual é possível navegar pela rede. O software. Esse software, grosso modo, se constitui a partir das instruções direcionadas à máquina e traduzidas para uma outra linguagem (código de máquina), para que as operações instruídas sejam executadas corretamente, a partir dos inputs dados pelos usuários dos programas. Um clique é um comando que aciona códigos, leituras e interpretações pré-programadas para que a ação correspondente aconteça.
Nessa perspectiva, o Ciberespaço é o ambiente, o espaço constituído com base em uma comunicação, em linguagens e diálogos homem-máquina, máquina-máquina. Vemos a tela, mas não visualizamos a quantidade de informações, de comandos, expressões e códigos que estão por trás das imagens icônicas que vemos nas telas.
Esse olhar traz uma mudança de perspectiva radical. Se antes o lugar era construído no espaço natural, e operava a apropriação do meio natural em símbolos, agora os símbolos vão ser as pelas a partir das quais o “espaço” vai se constituir, e onde vai acontecer a (Ciber) cultura. É a possibilidade de, pela linguagem, simular o ambiente, com todas as características de um ambiente, mas formado na arbitrariedade do símbolo e na sua abstração.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico