2. O virtual, o espaço e o ciberespaço
O ambiente artificial produzido pelo homem também é ambiente. Como tal, influencia a configuração cultural da humanidade assim como o ambiente natural. As mudanças no ambiente natural conduziram a evolução da espécie humana até um determinado ponto. Hoje, embora ainda sujeitos aos caprichos da natureza, nosso ambiente produzido culturalmente concorre juntamente com o natural na configuração do humano e, em alguns momentos, superando-o.
O ciberespaço, ou espaço virtual é também espaço, guardando características de ambiente, no que se refere à sua capacidade de interferir na produção e reprodução da cultura. Sendo espaço, é também lugar.
Há de se lembrar ainda, que o virtual, como concebe Pierre Levy, é a releitura, a atualização de algo que existe concretamente. Ou seja, o programa no qual alguém edita um determinado texto está fisicamente gravado no HD do computador e quem o digita está sempre saindo do totalmente virtual para o físico, salvando o documento para não perder as informações no limbo da virtualidade. E ainda assim, o texto em estado virtual antes de ser gravado no espaço físico, o “lugar” Hard Disck, tem o suporte físico da memória, podendo até mesmo ser, com alguma sorte, recuperado da inexistência concreta. O chat, a câmera de vídeo-conferência ou mesmo os jogos e programas de realidade virtual, são mediações físicas, numa interface de homem concreto - máquina concreta - homem concreto. Virtual por Virtual, a realidade é sempre uma virtualização do que está gravado em nossos cérebros.
Contudo, não há uma relação direta entre o que é virtual e o conceito de ciberespaço, o lugar onde acontece a sociabilidade.
Afinal, o ciberespaço é a virtualização, a atualização em um lugar, de dados registrados em outro lugar, interconectados por redes, e que, por suas características técnicas de programação, permite a mediação da comunicação entre seres humanos e com a própria cultura por eles produzida.
Pode-se entender que o que faz dessa mediação técnica ciberespaço é a própria possibilidade da mediação. Nesse sentido, Rosa (2001) propõe uma distinção entre on line e off line. Por essa distinção, nem tudo que é virtual é ciberespaço.
Para esse autor, a condição de off line, se traduz pela utilização da tecnologia para fins operacionais, de solução de problemas, não implicando na mediação da comunicação diretamente com outros seres humanos ou suas produções de forma interativa. São as operações frias, nas quais a relação se dá com um sistema, produzido para responder automaticamente, mecanicamente, aos comandos enviados.
Sob esse prisma, pode-se dizer que a internet se apresentaria como uma nova possibilidade de conforto, de solução de problemas do dia a dia, como uma pesquisa para a escola, buscar um modelo para algum trabalho, enfim, uma gigantesca biblioteca, mas, antes de tudo, uma biblioteca.
A condição on line implica a relação, a sociabilidade, seja esta em tempo real ou não. Pressupõe a interatividade, a existência de um lugar para se entrar e sair. Sobre isso, Poster (op. cit. ROSA, 2001) vai afirmar que a internet (ou ciberespaço) está muito mais para um território do que para uma coisa. Nascer ou viver no território da Alemanha, por exemplo, faz do indivíduo um alemão, sujeito à cultura e as contingências daquele lugar que se chama Alemanha. Por outro lado, o convívio na internet tem suas regras, seus crimes, suas ofensas, e configura os que nele habitam, instituindo etiquetas, normas sociais, hábitos, costumes, constituindo uma cultura no sentido pleno do termo.
Quanto a ser ou não coisa, não se pode esquecer, em nenhum momento, que a internet é também uma coisa, diferente do que defende Poster. A rede, os fios, os hardwares, os programas com suas operações pré-definidas nos softwares, são concretos, falham, param e precisam eventualmente ser consertados. O ciberespaço é um espaço abstrato, que se constrói sobre um suporte físico, produto da nossa cultura. André Lemos (2002, p.137) nos diz que o ciberespaço “não é desconectado da realidade, mas um complexificador do real”.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico
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