quarta-feira, 12 de maio de 2010

o Ciberespaço é um lugar ou um não-lugar? Parte 4

3. Ciberespaço e Território – Culturas decorrentes

Para Ribeiro (2000, p.172), espaço e território são elementos de importância capital para se compreender os modos de representar pertencimento a unidades culturais ou sócio-políticas. As lealdades são definidas e delimitadas por territorialidade e por tecnologias de identificação. De acordo com esse autor, ciberespaço e cibercultura são espaços reais de contestações políticas e ambiências culturais, mas que não possuem equivalência com os demais espaços da forma como conhecemos. Seriam novos espaços e não sínteses de espaços anteriores.

Dessa análise, podemos concluir que o ciberespaço, onde acontece a cibercultura, é um ambiente de pertencimento, onde há a identificação por área e de origem. Em muitos momentos, as identificações ligadas às antigas tecnologias de identificação (identidade, cpf, nacionalidade, etc) são solicitadas para que novas identificações sejam realizadas no ciberespaço, permitindo o acesso às tribos da cibercultura e atribuindo novas identidades. E nos chama a atenção o fato de que a territorialidade da forma como conhecemos desaparece, surgindo uma nova territorialidade física, que se relaciona à localização dos servidores que armazenam as informações, sujeitos que estão às territorialidades de ordem tradicional para sua instalação. Pode-se dizer que há também uma territorialização pela linguagem, que sustenta, opera e concede existência aos programas, àquele espaço do ciberespaço. A identificação por esse ou por aquele software, por essa ou aquela interface gráfica.

Mais do que isso, as tribos da cibercultura estipulam seus rituais de iniciação, por meio dos quais o indivíduo passa a ter pertencimento a uma nova comunidade, assumindo posturas e comportamentos relacionados àquela tribo, sendo que a territorialidade que está aí presente não é a de um país, uma cidade ou um recorte físico geográfico continuo. Trata-se de informações e contatos dispersos pelos computadores dos participantes, e só acessível através da rede.

Eventualmente, grandes eventos rituais vêm a público para celebrar esse pertencimento e eternizá-lo, quando esses grupos se manifestam, em alguns momentos de forma trágica, com os suicídios coletivos programados pela internet, que vêm acontecendo com certa freqüência no Japão.

Nesse novo espaço, o ciberespaço, surge uma cultura (a cibercultura), com toda uma possibilidade, garantida pela estrutura técnica do ciberespaço, que privilegia o nomadismo, o voyerismo, e que, por meio do anonimato, da distância espacial e da possibilidade do mascaramento, estimula a uma multiplicidade de identidades culturais.

Michel Maffesoli (2001, p. 30) destaca essa riqueza cultural oferecida pelo ciberespaço quando afirma que “as potencialidades do ciberespaço estão longe de se esgotar, mas já testemunham o enriquecimento cultural que está sempre ligado à mobilidade, a circulação, sejam as do espírito, dos devaneios e até das fantasias, que tudo não deixa de induzir”. De fato, quanto mais intenso o contato entre as culturas, sejam coletivas ou individuais, maior a intensidade das transformações que irão ocorrer. As novas tecnologias de comunicação, mediadas por computador, permitem mais do que o contato massificador da televisão ou do rádio, no paradigma um-todos. Possibilita a troca real, em tempo real ou não.

Nesse ínterim, ordem e estabilidade são incertezas. A única convicção é a da mudança. A cultura que emerge desse contexto é mista, nômade, instável, incoerente, correndo-se o risco do vazio da comunicação ao qual se referia Baudrillard. A angustia se instala em definitivo.


Fonte: Revista Espaço Acadêmico




Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário